
terça-feira, 22 de dezembro de 2009
terça-feira, 13 de outubro de 2009
"Foi um Soco Grande!"
Seis horas, quarenta e dois minutos e trinta e poucos segundos. Não dava mais pra aguentar aquele cubículo. Todos no escritório já haviam saído e a cada minuto eu olhava praquele relógio na parede do lado. Seis horas, quarenta e dois minutos e quarenta segundos... O sol alaranjado do fim de tarde entrava pela janela e me lembrava daquelas lampadas japonesas ou chinesas (eu nunca consegui distinguir direito a origem dessas coisas) feitas em papel, ouvia o cooler do computador assobiando feito doido naquele silêncio do oitavo andar, mesclado com o som da enceradeira sendo usada no corredor. Seis horas, quarenta e dois minutos, quarenta e tres minutos... Não chegava o e-mail de última hora que a gerente de vendas me pediu pra aguardar, então me levantei, espreguiçei-me um pouco para acabar com a dormência que dominava a perna esquerda e fui até a Zizi. (Zizi é o apelido que o pessoal carinhosamente concedeu à máquina de café expresso Zimbabwe Coffe, que fica no andar de baixo). Enquanto eu caminhava de volta à minha mesa com um capuccino aguado e amargo na mão me ocorreu o pensamento de que tipo de teste de qualidade poderia vir de um nada famoso cafezal no Zimbabwe, de certo não sei ainda a vantagem de se informar esta origem tão "tradicional". Passei pelo trecho a ser encerado e derrubei algumas gotas do capuccino no piso, coisa que tranformou o semblante cansado da moça da limpeza em uma carranca. Nem ousei pedir desculpas, saí rapidinho dalí tentando evitar que pudesse deixar cair o copo todo... acho que aquela senhora me enforcaria no fio da enceradeira... Antes de me aproximar do pc já percebi que o e-mail estava lá pronto a ser aberto e eu não hesitei, já era tempo. Recusei-me a sentar de novo e já estava até retirando o paletó cinza do encosto da cadeira quando percebi a importância do que estava escrito ali: 'Sr. Ricardo: Os arquivos em anexo devem ser encaminhados para Dona Consuela tão logo alterados os valores de descontos até as 22:00 hs. Caso não realizado no prazo estipulado, a premiação de co-participação estará suspensa até segunda ordem. A Diretoria.' Eu sabia que aquela era a oportunidade da qual havia esperado por meses a fio, de mostrar minhas capacidades e conseguir mais estabilidade. Garantiria ao menos a astronômica conta de telefone. Mas tudo que passava na minha cabeça era como as coisas tomavam proporções gigantescas conforme o tempo avançava. Tempo. A responsabilidade com prazos, os anos que a vida em um escritório conseguiam dar cabo, daquelas férias ano retrasado, das comemorações quando um amigo terminava uma faculdade. Tempo, tudo era sobre tempo. Eu sabia tudo sobre vendas e cálculos mas sabia mais sobre Importância e Tempo. Fechei o outlook e as planilhas, desliguei o computador e vesti o paletó. Esta hora já não havia mais trânsito intenso nas ruas então não temi nenhum atraso embora não me deti em nenhuma outra atividade. Olhei o relogio, sabia que ia dar tempo. Seis horas, cinquenta e um minutos. *** O silencio no saguão do prédio semi vazio parecia ampliar o barulhinho das moedas no meu bolso enquanto andava em direção à rua, e corri a mão para atender meu celular no primeiro toque para evitar que incomodasse alguém ali. Era Lila na linha, estava preocupada por eu não estar ainda no local combinado, mas seu tom era amistoso e me disse que esperaria um pouco mais sem problemas. Segui em direção ao metrô, tinham poucas pessoas nas plataformas, tinha um cãozinho bonitinho dormindo num canto, estava bem frio e a ponta dos dedos dos meus pés estavam congelando. Enquanto estava no vagão, uma das telas informava das mudanças nas linhas e estações, ressaltando sempre o beneficio que traziam a todos. Abriam caminhos, encurtavam distâncias, ampliavam seu tempo. Quase não percebi que já havia chego na minha estação, saí de lá e já dava pra ver a entrada do pub onde Lila me esperava. Esse pub já assistiu mais de uma vez minha embriaguês e eu o tenho como um local sagrado. E ela parecia que sabia, não queria me esperar la dentro... Ela estava parada do lado de fora, com uma longa capa de chuva vermelha, botas à combinar que custavam o olho da cara (eu sei pois foi eu que as comprei no natal de 97) e estava linda. Ela sempre foi meio doidona e espalhafatosa mas parecia até contida e serena. Não preciso nem dizer que abri um sorriso quando a vi, quando ela fez uma piadinha sobre minha pontualidade ou quando ela me abraçou. Tinha uma coisa meio engraçada sabe, estava parecendo mais velha, eu nunca havia reparado que ela adquirira pés de galinha durante esses anos, mesmo assim não perdia o jeito de menina. Abri a porta e esperei ela entrar, dava pra sentir o bafo quente lá de dentro do bar junto com os sons bem conhecidos pelos frequentadores da vida etilica. Tinha um leve cheiro de cigarro de cravo no ar e antes que eu comentasse com Lila sobre isso fui puxado por ela pela mão até os fundos onde lá estavam alguns velhos amigos nossos se debatendo pra chamar nossa atenção. Numa mesa redonda e pequena de madeira estavam canecões de chopp, uma porção já pela metade de batatas fritas e diversos maços de cigarros e celulares dispostos aleatoriamente. A falação e cumprimentos foram mais acolhedores do que eu me lembrava, nem deu tempo de dizer que eu não estava com fome e Ed, um dos meus amigos já estava levando uma batata frita feito aviãozinho na minha boca como brincadeira. Eu não podia sequer reclamar, eles estava acostumados com minhas brincadeiras que confesso, não eram todas tão suaves como uma batatinha de aviãozinho. Não sentei, nem pedi um copo. Eu nem mesmo me centrei em uma conversa, pois haviam 3 ou 4 conversas paralelas se cruzando naquela mesa num misto de show de piadas com assuntos profissionais. Eu olhava ao longe, via as pessoas andando por aquele pub quase lotado procurando um rosto familiar, procurando alguém que estava faltando ali. Ele estava voltando do banheiro, vestindo uma boina italiana, todo sorrisos e já veio logo puxando pra um abraço. tapas nas costas e todas aquelas coisas, você sabe. Passava na cabeça as coisas idiotas e momentos mais sóbrios que eu havia vivido com aquele amigo meu, quando estudávamos juntos ou quando ele vinha com as histórias cabulosas dele... Um jeito marrento, às vezes até meio ingênuo, quando começava... lembro de uma história dessas, quer dizer, lembro mais ou menos. Não sei se era uma piada ou algo que ele ouvira por aí e saíra contando a torto e a direito mas era hilário. Acho que era sobre um personagem cômico ta Tv, o cara arrumava uma confusão como sempre e nesta ocasião teria "armado um soco grande" contra sei lá quem... ah, todo mundo ria, talvez fosse menos engraçado na própria Tv do que ele contando... e o tempo passou tão rápido que nem percebi que logo estavam se despedindo e trocando os tapinhas de novo. Eu sabia, desta vez era diferente, era de fato importante. O Tempo come cada segundo de diversão e prazer que você tem na vida e troca por um punhado de lembranças enevoadas, deixando a sensação de perda e incapacidade de mudar as coisas. Era óbvio, aquele momento era único e diferente, nauqela vez aquele amigo iria pra bem longe, buscar a vida longe dalí. não tive o tempo nem o jeito certo de dizer tudo o que deveria ser dito e talvez até tenha sido dito o suficiente. Qualquer coisa a mais era desnecessária, no aperto de mão ele sabia e eu também, amizade não finda com distância. Ele saiu, os outros sairam, Lila pegou carona com uma das meninas mas eu morava a três quadras dali, estava em casa. Coloquei o paletó sobre o recosto da cadeira, comi uma das batatinhas murchas sobre o prato, e olhei em volta. Não tinha relógio no bar. Estiquei o braço uma vez só em direção ao garçom gordinho que logo me trouxe um copo e uma garrafa de cerveja. Estava no ponto certo, já não era sem tempo. ---------------------------------------------------------------------------------------------- Esta é uma obra feita em homenagem a um amigo que foi morar longe, mas também sobre como o tempo me incomoda. Às vezes, tudo o que precisamos é esquecer do tempo passando e aproveitar as coisas pequenas... ah, acho que vocês entenderam rs...
terça-feira, 15 de setembro de 2009
Ciência Encontra a Magia
domingo, 12 de julho de 2009
Prisão
sábado, 4 de julho de 2009
domingo, 28 de junho de 2009
Homenagem...luto.

sexta-feira, 19 de junho de 2009
quarta-feira, 17 de junho de 2009
terça-feira, 16 de junho de 2009
domingo, 14 de junho de 2009
Viver junto, morrer sozinho

sexta-feira, 12 de junho de 2009
O dia em que os filmes americanos me decepcionaram

quarta-feira, 10 de junho de 2009
quarta-feira, 3 de junho de 2009
Sol

terça-feira, 2 de junho de 2009
"DEVOLTA AO OUTONO"
Cansado da longa vida Já sem sua mocidade Se perde o pensar por uma janela Sente a brisa soprando saudades
Ah, quantas lembranças Das tardes, do vento gelado Daquela paixão de infância Em um feliz irregressível passado
Vem um aperto no peito Sente o inverno mais perto Com um suspiro profundo Já sabe deu destino perpétuo
Amigos se foram há tempos Relembra como uma antiga canção Cantada em uma casa de pedra Que agora zela sua solidão
Esta noite o homem dorme sorrindo Em sonhos serenos caminha Doutro lado todos já o esperam Deste aqui tudo já se definha
De quantos outonos perdeu a conta Das festas, dos beijos roubados Nas marcas no rosto se aponta Um sorriso vagaroso, que jaz parado
Descansa pensando agora Onde um coração há gravado No tronco de um salgueiro Com o nome de um amor selado
domingo, 31 de maio de 2009
"FOME DE QUÊ?"

Faz vinte anos que, numa cidadezinha interiorana a uns 90 km daqui, quando eu ainda era um infante e meu pai e meus tios me levavam para pescar, aconteceu o inverno mais inesquecível da minha vida. Mesmo hoje, 1940, eu não consegui tirar da cabeça o dia no bosque próximo àquele lago que costumávamos pescar.
Na noite anterior a todas as pescarias, tinha que dormir cedo com a promessa de me comportar lá, pois ninguém gostava de crianças em pescarias por serem barulhentas e sempre afastarem os peixes. Contrariando minha mãe, que não gostava nada quando me levavam pra lá. É que eu tinha estomago fraco e voltava sempre “botando as tripas pra fora”, mesmo assim eu batia o pé para deixar que eu fosse. Então dada às sete da noite não tinha escolha: cama!
Noutro dia, cinco da matina e mesmo pregado de sono eu estava lá de pé ansioso pra participar daquela reunião dos homens da família. Algumas vezes o meu sono era tamanho que me deixavam pra trás. Era inverno, acho que Julho, e meu pai ali de pé na cozinha já estava a fazer seu café. Eu esperava quieto, tomava um copo de leite morno com achocolatado, apesar de eu sempre vomitar em viagens quando bebia muito leite. Uma buzinada lá fora era o sinal que meus tios haviam chego e como sempre, estavam com pressa. Tudo pronto, eu bem agasalhado, saímos com nossa sacola cheia de anzóis e linhas de pesca, potes de maionese vazios e pazinhas que seriam usadas para pegar minhocas quando chegássemos. Lembro que eram viagens demoradas dentro do fusca azul do meu tio, mesmo que meu primo fosse conosco e que no caso sempre era uma distração, um entretenimento mais adequado já que tínhamos a mesma idade, ainda assim eram viagens cansativas na qual dormíamos uma parte do trajeto.
Quando estavam de bom humor me deixavam levar meu cão, que por onde eu estava o levava. Seu nome era Cachorro, lembro bem da coleirinha que fiz com seu nome. Eu sei, era um nome bem idiota, mas eu era um garoto e nem sei explicar os motivos dessa escolha além do óbvio. Ele era um vira-lata e geralmente eu ficava mais calmo quando estava na companhia do meu amigo preto e branco.
Nesta ocasião, iam dois tios meus, meu pai, meu cão e eu. Choveu a noite inteira e a viagem pareceu então mais longa ainda. Durante o trajeto lembrei-me de mamãe, que não estava mais conosco e meu pai dizia ter viajado pra longe. Ao invés de irmos direto para o lago, chegando à cidade pegamos uma estradinha de terra cercada de goiabeiras e entramos num pequeno rancho. Quiseram parar pra pegar uns frutos e tão logo a porta abriu, Cachorro saltou e correu pelo grande gramado ao lado. Era quase oito da manhã, e como já disse, choveu durante a noite. Agora restava só uma garoínha. Eu estava ouvindo a barriga roncar então aceitei um dos frutos que meu tio me ofereceu. Sua casca verdinha até brilhava, lustrosa. Tinha cheiro de coisas do mato assim como todo o lugar. Mordi a pequena goiaba e um gosto de fruta estragada encheu minha boca. Foi muito desagradável nem precisa dizer né. Pior que ainda riram de mim pela careta que fiz ao cuspir aquele teco nojento de goiaba longe. Decidi correr atrás do meu cão e deixá-los com suas risadinhas. Era um gramado plano e mesmo à distância podia ver onde estava o fusca e também mais à frente onde estava a casa do Sr. Firmino e sua esposa Dona Célia. Cachorro corria brincando com um graveto e quanto mais eu me aproximava dele mais ele corria de mim em direção da casa velha. Conforme meu cão se aproximava de lá eu diminuía meu ritmo até que parei quando ele deu a volta por trás da casa, na direção do bosque logo adiante, e o perdi de vista. Eu não gostava daquela casa, era iluminada apenas por lampiões a gás que criavam sombras pelos cantos, tinham quadros estranhos de crianças chorando e alguns cômodos estavam sempre trancados e por mais que apenas os padrinhos de meu pai morassem ali, certa noite que pousamos lá, mamãe ouviu diversos ruídos de móveis sendo arrastados dentro daqueles quartos, e foi a única e última vez que ela viria conosco. Lembro que ela odiava tudo no local.
Voltei correndo pro carro, percebi que eles não estavam lá. Tranquei-me no fusca e fechei os vidros. Senti-me sozinho, queria chamar por eles, porém fiquei quieto e em uns minutos eles apareceram de novo. Disseram que tinham visto um tatu e que tentaram pegá-lo. Falei que Cachorro tinha se perdido, mas mal me deram ouvidos. Eu estava preocupado, pois era um bosque bem fechado e escuro, os raios de sol mal passavam pelas folhagens das copas das árvores de lá e Cachorro devia de estar assustado. Logo ele voltaria, disseram. Eu não estava tão certo disso.
Limpamos os pés sujos de barro em um ferro posto perto à porta especificamente pra isso e entramos. Os homens deixaram seus casacos nos ganchinhos que tinham atrás da porta e trataram de chamar o Sr. Firmino, que aparentemente não estava por ali. Havia muito pó sobre aqueles móveis coloniais pretos, e um monte de panelas antigas penduradas numa espécie de varal na cozinha. Ah, não havia fogão como aqueles que tínhamos em casa, era algo feito de tijolinhos e barro batido, com um buraco enegrecido com lenha e carvão dentro. Uma coisa bem curiosa e contrastante com o lugar era o gramofone encostado ao lado de uma poltrona antiga na sala. Tinha até uma manivela no artefato e tinha um disco pequeno de vinil tocando. Era uma ópera, tocava tão baixinho que suspeito que ninguém a não ser eu a notou. Decidiram ir logo para o lago e voltarmos a tempo do almoço. Eu não queria ir sem meu cão e não queria ficar ali também, mas não havia escolha e fui com eles.
As memórias de uma criança nem sempre são muito nítidas e às vezes me questiono se era imaginação demasiada minha quando saindo de lá avistei o Sr. Firmino totalmente enlameado da cintura pra baixo e com um machado numa das mãos. Fiquei assustadíssimo, a visão me deixou mudo e assim eu fiquei enquanto o fusca se afastava.
Eles até estranharam que durante a pesca eu tenha ficado tão comportado, mas não era dia pra peixe e a pesca rendeu poucas tilápias. Ajudei a pegar minhocas, a tirar os peixes dos anzóis, e nada me despreocupava. Acompanhei o silêncio daqueles homens por frias horas, pus minhas mãos nos bolsos do casaco vermelho que vestia e sentei cabisbaixo até que decidiram que era bom me levar pra comer. Enquanto voltávamos, me distraí desenhando cachorros nos vidros embaçados do carro, um dos meus tios sorriu pra mim e falou que tudo ficaria bem depois de uma boa refeição. E de fato, seria impossível esquecer o gosto das canjas que Dona Célia preparava, era uma cozinheira de mão cheia. Enchia de cheiros a cozinha toda e não foi diferente desta vez. Tão logo entramos os aromas preencheram o ambiente e até eu me animei um pouco mais. A velha senhora estava lá mexendo no panelão alguma iguaria sem par e sem muitas cordialidades seguiu dizendo que era melhor comermos antes que esfriasse. Mamãe teria brigado comigo por sentar à mesa sem ter lavado as mãos, mas nenhum dos mais velhos me exigiu coisa sequer. Sentavam-se todos falando ao mesmo tempo e as risadas altas me relaxaram e logo até eu estava sorrindo com os gracejos do Sr. Firmino.
Na mesa, tinham além dos pratos de alumínio esmaltado, canecas com o que parecia suco de limão e também amoras numa tigelinha. Tudo era bom. Como das outras vezes que tinha ido pra lá, todos comemos muito enquanto conversávamos e brincávamos. O cozido desmanchava na boca, macio e suculento. Eu já havia comido até empanturrar quando notei dentro da panela de cozido algo reluzindo, que retirei com uma colher de pau e coloquei no meu prato já vazio. Era como uma moeda de prata... Era a medalhinha onde estava escrito o nome do meu cão. Num pulo saí da mesa subitamente, enquanto todos paravam e me olhavam, eu apavorado com uma voz que lutava pra sair, perguntei:“—Onde está minha mãe?!”
Consciência
sexta-feira, 29 de maio de 2009
"CARNE E UNHA"
Me olha
Me encontra
Me carrega
Não me deixa!
Por que me julga tanto se já deitou comigo?
Lembra que te visitei nas noites que acordou em suor
E não ouvi de você nenhuma palavra de carinho
Antes dancei com você à luz da lua
Agora me entrego pelo seu flerte na rua
Seus sorrisos foi eu que dei
Então não corre!
Por que me despreza depois que passamos a juventude juntos?
Ofereci prazer carnal e desenhei pra você sonhos de lascívia
Ofereci o gosto do vinho, do prato refinado, de pele salgada e lábios tão tenros
Sei que provoco você, sei que te faço os olhos brilharem
Sou tudo o que você quer e ainda sim trata-me com desdém
Nada te diverte sem mim, eu sei
Então não foge!
Me vesti pra você
Lembra que te arranquei suspiros
Me despi pra você
E falou mal de mim mais de uma vez
E sentiu agua na boca mais uma vez
Tudo fica sem graça sem mim, eu sei
Então me agarra!
Me renega mas não tem jeito
Somos carne e unha
Você e eu estamos presos
Estou em você, te vejo ao meu lado
Me chamo Desejo mas me chama Pecado.
Olha pra mim
Me reencontra
Me carrega onde for
Não me deixa por favor!
quarta-feira, 27 de maio de 2009
Anjo
domingo, 24 de maio de 2009
Playstation 3 - INFAMOUS
domingo, 17 de maio de 2009
Bom dia, boa tarde, boa noite.
sexta-feira, 15 de maio de 2009
O FIM
Novos colaboradores!
VIDA COMUM pt.3
VIDA COMUM pt.2
VIDA COMUM pt.1
Ao Meu Pai

"Enquanto olhava pela janela do meu quarto a neve caindo de levinho na calçada lá fora, percebi que minha tia Penélope chamava lá de baixo. Afastei-me da janela, e tratei de tirar da tomada aquele aparelho de som que havia comprado num brechó de garagem ano passado com as economias que consegui entregando jornais para a Gazeta do Amanhã, o pequeno jornal do bairro. Sentei na cama, era bem macia e fez um barulho de molas rangendo baixinho. Olhei para os pôsteres de filmes que eu mesmo tinha colados no teto baixo, olhei meu armário vazio que estava de portas abertas e certifiquei de fechar a mala de viagem sob o colchão. Continha minhas roupas, um relógio de bolso que era do meu avô e um volume de capa verde-escuro do livro Moby Dick. Não era uma mala muito grande e pesava pouco também, era um pouco antiquada, mas isso a tornava mais bonita, com um toque de antiguidade. Peguei com a mão esquerda, enquanto a direita tentava alargar um pouco o colarinho daquela camisa, definitivamente aquele terno não fazia parte das minhas vestes comuns e num lugar apertava e noutros ficava largo por demais. Por fim saí do quarto deixando lá pedaços de minha infância e adolescência, desci as escadas sem pressa, olhando cada um dos retratos dispostos nas paredes, em alguns deles tocava de leve, só pra alinhar. Eram fotografias de passeios em parques e zoológicos da cidade, de meu pai e também do avô. Lembranças de aniversários e festividades com a casa cheia de familiares, noites natalinas e tardes de ação de graça, tinha aquela fotos da minha irmã caçula levada embora por mamãe após o divórcio alguns anos atrás, fotos de quando eu tinha 6 anos, todo sem jeito segurando a pequenina Valéria que acabara de vir ao mundo e fotos da fazenda de meu avô. Era pra onde iria agora, morar com o avô em sua fazenda próxima ao mar da Itália.
De onde eu estava era possível sentir o cheiro do chá de erva-doce servido para as poucas pessoas naquela sala, que me observavam com caras tristes e trajes negros recatados. Eu conhecia cada uma delas, do Senhor E Sra. Cesare, meus vizinhos, ao capelão Bernardi. Cada uma daquelas pessoas segurava uma pequena xícara com uma das mãos, estavam de pés conversando de maneira acatada entre si enquanto tia Penélope chegava da cozinha com uma bandeja prateada repleta de biscoitos de aveia e baunilha. Era o que ela fazia de melhor e com toda certeza estaria delicioso, mas eu estava sem apetite algum naquela manhã gelada. Mesmo assim, retirei um dos biscoitos da bandeja fazendo titia me entregar um riso singelo e gordinho como só o sorriso dela podia ser.
Deixei a mala diante de uma das poltronas de meu pai, titia ajeitava novamente minha gola e verificava se eu tinha esquecido de fechar corretamente aquele terno desconfortável, enquanto era notável que todos ali olhavam praquela cena. Vi no relógio da sala que faltava pouco para as dez da manhã e conforme os presentes ali se despediam com poucas palavras entrando em seus velhos carros estacionados lá na rua, me dei conta que aquela casa seria ocupada por estranhos, em breve vendida para pessoas que não saberiam que as paredes foram erguidas por meu pai, nem dariam valor algum para todas as risadas e festanças que passei por aqui. O enterro de meu pai aconteceu um dia antes, mas só agora, somente quando estava pra sair pela ultima vez da casa é que, olhando para aquela poltrona, senti como se ele ali estivesse acenando e sorrindo, daquele seu jeito tão peculiar, um adeus silencioso e fantasmagórico, tão diferente da vibração que o acompanhava em qualquer parte. Ficará nesta casa e enraizado nas minhas melhores memórias."
........................................................................ Bem, este é um trecho de um conto feito numa madrugada, não baseado em fatos reais mas inspirados em circunstâncias da minha infância com meu pai. As lembranças e coisas de familia.